O Dia e a Escolha
No início de cada ano renovamos muitos votos: prometemos fazer mais e melhor. Sem querer, ao trazer para o novo ano novos projectos, acabamos por trazer também velhas atitudes. Uma delas de tão habitual tornou-se automática, tomamo-la sem pensar, apoderou-se de nós. Como fomos educados para fazer muitas coisas, produzindo com eficácia e rapidez, no final do dia damos connosco a cair num paradoxo terrível porque lembramos sempre o que não fizemos, o que deveria ter sido feito e o que ainda temos de fazer no dia seguinte. Culpabilizamo-nos por isso, torturamo-nos em vez de analisarmos o que fizemos, o muito que fizemos, as várias áreas que abarcámos e de nos congratularmos com isso. Este hábito velho de nos avaliarmos pelo que não fizemos causa-nos uma tensão diária desgastante, interfere com a nossa autoestima e enreda-nos na culpa. Transmite-nos a sensação de que estamos sempre a falhar, situando-nos aquém das expectativas que criámos. Ficamos tristes quando sentimos que o muito que fizemos não nos preencheu e não nos tornou mais felizes. Em vez de adormecermos agradavelmente cansadas, dormimos tensas e cheias de culpas.
Se queremos mudar algo na nossa vida, temos que começar por transformar a nossa maneira de pensar, sempre que esse pensamento nos conduza a um beco sem saída. Há um exercício que nos poderá ajudar. Antes de adormecermos, lembremo-nos das muitas e variadas acções que realizámos ao longo do dia. Congratulemo-nos por isso. Diariamente.
Desejo a todos um ano cheio de renovada esperança e determinação para atravessarmos positivamente os desertos individuais e colectivos.
Maria Coriel